A obesidade é uma síndrome, com várias causas, caracterizada por um excesso de tecido gorduroso e pode ser classificada em várias modalidades.
Quanto ao seu início, podemos classificá-la em:
OBESIDADE DE LONGA DATA – indivíduos obesos desde criança; é a forma de mais difícil tratamento e entre as causas existe a predisposição genética (herança familiar) e a hiperalimentação precoce;
OBESIDADE DA PUBERDADE – aparece na puberdade, é predominante em mulheres, tem como causas angustias e ansiedades desta fase da vida e alterações orgânicas;
OBESIDADE DA GRAVIDEZ – na gravidez e no pós-parto, também por fenômenos psíquicos e/ou orgânicos;
OBESIDADE POR INTERRUPÇÃO DE EXERCÍCIOS – comum em esportistas que ingerem grandes quantidades de calorias e param de fazer exercícios, ou seja, deixam de gastá-las;
OBESIDADE SECUNDARIA A DROGAS – alguns medicamentos como os corticóides, os antidepressivos e os estrógenos podem induzir a um ganho de peso;
OBESIDADE APÓS PARAR DE FUMAR – a explicação é que a nicotina aumenta o gasto calorico por sua ação lipolítica; também é responsável por perda de apetite;
OBESIDADE ENDÓCRINA – somente 4% das obesidades se enquadram nesta etiologia, que inclui doenças da tireóide, do pâncreas e da supra-renal.
Por esta classificação já podemos concluir que a obesidade não é característica de pessoas com “falta de vontade para emagrecer, relaxadas com sua aparência e etc”, mas de pessoas com uma doença e que deve ser tratada como tal. Sabe-se hoje que muitos hormônios como a adrenalina, a serotonina, a dopamina e a nor-adrenalina estão envolvidos em respostas como humor, ansiedade, saciedade e ate as reações psíquicas tem seu lado físico. Portanto, a obesidade hoje é vista como uma doença crônica e deve ser tratada.
Outra forma de classificar a obesidade é pelo peso, que reflete, não necessariamente (a musculatura também pesa) o excesso de gordura. Os critérios utilizados para medir o tecido adiposo são variados. Podemos citar a correlação do peso/altura (tabela do Metropolitan Life InsuranceCompany), medidas de espessura de prega cutânea e o índice de Quetelet ou Índice de Massa corpórea (IMC).
O IMC é obtido pela divisão do peso em Quilos pela altura ao quadrado (expressa em metros). Podemos classificar o peso em categorias, de acordo com o IMC.
IMC = PESO / ALTURA²
A importância desta classificação reside no fato estatístico de que pessoas classificadas como obesas apresentam um risco muito maior de doenças como a dislipidemia (colesterol elevado no sangue), o diabetes, as doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial, a gota, a osteoartrose e conseqüentemente maior risco de morbidade/mortalidade.
O principal mecanismo da obesidade é um desequilíbrio entre a formação e a destruição de células adiposas no organismo. Simplificando: o que comemos (medido em calorias) favorece a formação de células adiposas e o que gastamos (gasto calórico) favorece a destruição destas células; deste modo temos obesos que comem muito e obesos que comem pouco ou adequadamente mas gastam pouco (gasto calórico ineficiente). Esta é outra forma de classificar a obesidade, ou seja, quanto ao mecanismo envolvido na sua gênese.
Esquematicamente:
OBESIDADE POR HIPERFAGIA – são os obesos que comem muito, em quantidade ou em qualidade (alimentos muito calóricos – neste grupo estão incluídos os populares beliscadores). Nem sempre a hiperfagia depende apenas de um autocontrole. Além dos mecanismos psíquicos envolvidos (depressão, ansiedade, angustia, carência afetiva), estão sendo cada vez mais descritas alterações orgânicas condicionantes de hiperfagia (alterações no centro da saciedade, alterações hipotâlamicas e alterações de alguns hormônios gastrintestinais);
OBESIDADE POR GASTO CALÓRICO INEFICIENTE – aqui estão incluídos indivíduos que tem vida sedentária, os que comem proporcional ao gasto com exercício e param de praticá-lo sem diminuir sua ingestão, e os indivíduos que comem pouco mas tem a famosa tendência para engordar. Sabemos que este último grupo de indivíduos não tem o seu metabolismo basal diminuído, mas gastam menos calorias para a digestão, absorção, transporte e utilização dos nutrientes, ou seja, são equipados energeticamente para serem obesos. Isto seria uma vantagem em ambientes com escassez de alimentos, como na idade da pedra, mas não hoje, onde a dieta mundial é caracterizada por uma tendência em direção a proporção maior de gordura e a uma maior ingestão calórica total.
O mecanismo envolvido na gênese da obesidade é fundamental para um tratamento adequado do paciente. Vale a pena lembrar que os nutrientes que mais engordam, ao contrário do que se pensa, são as gorduras – 1 grama de gordura tem 9 calorias, enquanto 1 grama de açúcar tem 4 calorias – e que a maioria dos alimentos irresistíveis ao paladar contem os dois componentes, como o chocolate, as massas, etc.
Quanto ao tratamento da obesidade, podemos considerar que deve-se levar em conta não só o lado estético, mas a questão principal, que é a saúde do indivíduo. Atingir um bom peso deve vir acompanhado de mudanças no habito alimentar, condicionamento físico e saúde psíquica, proporcionando condições para um crescimento, amadurecimento e envelhecimento saudáveis. O tratamento da obesidade inclui medidas dietéticas, exercícios físicos, e se necessário medicação, e tratamento das condições associadas com a obesidade.
DIETA
A dieta para emagrecer deve ser orientada por profissionais habilitados, para evitar distúrbios metabólicos e perda de peso muito rápida. Esta perda muito rápida geralmente é feita às custas de tecido muscular, o que é absolutamente indesejável. Basicamente as dietas devem ser hipocalóricas, fornecendo em torno de 1200 calorias por dia; a gordura deve ser restrita ao mínimo possível. Por exemplo, cozer os alimentos com menos óleo, não temperar a salada e os legumes com óleo (só vinagre e sal), evitar alimentos gordurosos, como os embutidos (salame, presunto, etc), dar preferência ao queijo fresco (quanto mais amarelo o queijo, maior o seu teor de gordura), laticínios desnatados ou diet, não usar e abusar das frituras, preferindo alimentos cozidos ou grelhados. Não esquecer que os diferentes tipos de óleos e azeites não diferem muito no seu teor calórico, mas sim no tipo de gordura que contém. As gorduras associadas às carnes devem ser retiradas antes de cozer. As bebidas alcoólicas e os açucares (refrigerante, só diet ) também devem ser evitados, para ajudar na diminuição das calorias totais. A quantidade de proteína da dieta deve ser mantida.
As dietas de muito baixas calorias (700 – 800) não devem ser utilizadas sem critério, pois suas conseqüências podem ser desastrosas. Segue uma tabela de calorias de vários grupos alimentares para que você possa balancear sua dieta. Divida o seu dia em quatro refeições – café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar – e inclua no seu cardápio as verduras, os legumes, os laticínios, as frutas, as carnes e os cereais, e terá uma dieta adequada, com todos os nutrientes necessários a boa saúde. Adquira este habito, pois a tendência a engordar não desaparece, e se você não mantiver as alterações no seu comportamento alimentar, provavelmente será mais um dos inúmeros obesos com o popular efeito sanfona – emagrece/engorda/emagrece/engorda.
EXERCÍCIO FÍSICO
Deve ser realizado junto com a dieta, para aumentar o gasto calórico. Os exercícios bons para perder peso são os mesmo que condicionam o aparelho cardiovascular – natação, caminhar, correr, bicicleta, aeróbica. Mas atenção: a maioria dos obesos não faz exercícios e tem um baixo condicionamento – comece com exercícios leves e de curta duração, como por exemplo, caminhar 15 minutos por dia, e aumente progressivamente o tempo e a intensidade do exercício. Exercícios como musculação e ginástica localizada não condicionam o físico e são ineficientes para ajudar a perder peso. Servem para definir a musculatura e evitar a flacidez. A hidroginástica não proporciona grandes perdas calóricas, mas é uma alternativa para obesos que com problemas articulares e de ligamentos ou tendão, que precisam de exercícios de baixo impacto no aparelho locomotor. Além das vantagens citadas, o exercício aeróbico também previne a queda nas necessidades energéticas que acompanham o emagrecimento.
MEDICAÇÃO
Apesar da grande busca, ainda não existe um medicamento milagroso para a obesidade, que permita aos homens comer de tudo e em excesso sem ganhar peso. Cuidado com as grandes promessas, as fórmulas sem rótulos, feitas em fundo de quintal, as grandes ilusões que dolorosamente podem se transformar em grandes problemas. Não existe mágica. As fórmulas ditas naturais quase sempre vem misturadas com medicações que só devem ser utilizadas por quem entende do assunto.
Os diuréticos não devem ser usados – gordura não é água. Os hormônios da tireóide têm seu uso restrito e questionado. Os medicamentos mais usados, até indiscriminadamente, são os inibidores do apetite. Podem ser usados com moderação e controle, em casos selecionados, e por tempo curto, após o qual dão dependência e aumentam muito o risco de abusos de dose e dos efeitos colaterais, que ao contrário do que se pensa podem ser graves e até fatais. Lembre-se que as mudanças de hábito alimentar e os exercícios são essenciais para a manutenção do peso no decorrer da sua vida, já que o medicamento não pode ser mantido indefinidamente.
Concluindo: a obesidade é um grande problema pessoal e de saúde pública, pois a maioria das sociedades gasta cifras enormes com suas complicações. Mas, sejamos honestos – por que não ficar “mais bonito” e mais saudável também? Afinal qualidade de vida é muito importante para o nosso bem estar.